quarta-feira, 6 de abril de 2011

Não se fazem mais crianças como antigamente

Toda geração fala sempre a mesma coisa, é sempre assim e a tendência é sempre piorar.

Analisando algumas coisas básicas, fui reparando o que difere minha geração no que diz respeito às questões infanto-juvenis e a atual. Nossa, só tenho a lamentar. Mas calma gente, eu não culpo os que vivem a atual geração, mas também aqueles que dão suporte a isso. Chega desse blá, blá, blá inicial e vamos aos fatos.

Ainda resiste ao tempo o bom e velho jogo de futebol na frente da casa do vizinho que não gosta. Os meninos ainda chutam aquela bola careca e cascuda descalços, arrebentam seus dedos e vão pra casa dar mão de obra pros pais que trabalharam o dia inteiro, já a brincadeira das mocinhas mudou um pouco...
Outro dia descendo com meu carro aqui, passei bem devagar pra perceber o que as meninas aqui da rua, que no máximo têm 8 anos, estavam fazendo. Estavam testando qual dança é mais sensual. Isso mesmo meu amigo, SEN-SU-AL! E elas lá sabem o que é sensual?!? Eu não tinha ideia do que era quando tinha essa idade!

A mulecada na minha época brincava de pique por brincar, tinha aquele papo de café com leite (que eu era sempre  ¬¬'), uma correria danada, agora eu vejo os "inocentes" brincando de pique aqui na rua, dá até medo do que pode acontecer daqui há poucos anos, era pique bulinação...tá doido! Onde foram parar os pais nessa hora?!? Será que as crianças não nascem mais inocentes?

O próprio funk que surgia na minha época de criança era algo romântico, lembro ainda de Claudinho e Buchecha, Márcio e Goró, e mega hits familiares como 'eu só quero é ser feliz' e 'banho de espuma é muito legal'. Sinceramente não sei o que houve. Lembro com lágrima nos olhos eu e meus irmãos num dos raros momentos de união cantando 'ah, eu to maluco' dentro do quarto apertado.
Hoje em dia o que se sabe do funk é que com indiretas ou explicitamente, ele é quem tem moldado a mente alucinada das crianças e o que se tem espalhado por aí com a alcunha de cultura não é nada proveitoso e poucos têm a felicidade de conseguir um hit que agrade a todos.
Pra se ter uma ideia, um hit improvisado na porta da delegacia quando 4 mc's estavam sendo presos virou sucesso e mania nacional. Vejam no link abaixo.

Músicas com nome na minha época tinham um estilo romântico, eu não era muito chegado, mas tenho certeza que as músicas de antes como 'o nome dela é Jéssica, eu já falei pra você''Caroooool, Caroline' e ainda 'Inara, Inara, Inara, Inaraí' eram, e ainda são, muitas e muitas vezes melhores que Meu nome é Valeska e o apelido é quero dar, da, da, da, da'

Na minha época, o axé que já tinha lá suas letras de duplo sentido como 'segura o tchan (peito), amarra o tchan (região pubiana), segura o tchan, tchan, tchan, tchan, tchan (???), falando sobre gravidez e talz (demorei 10 anos pra entender), hj em dia caiu tanto na rotina que acabou gerando músicas sem o menor sentido como 'bota a mão na cabeça que vai comerçar o rebolation, o rebolation...' e 'pra frente, pra frente, cintura, cabeça, tchubirabiron'. Tenho pena do que aguarda essas crianças de hj nas micaretas (ainda existe isso?!?)

Novela pra criança na minha época de criança era chiquititas, carrocel, feita com crianças mesmo. Quem não se lembra do Cirilo?
Hj em dia as crianças das novelas são interpretadas por adolescentes e os adolescentes por adultos, às vezes até mais velhos que eu. Fica muito fora da realidade. Eu vejo a turma do Ensino médio de malhação e as turmas que eu dou aula e só consigo imaginar que existe alguma coisa errada em algum dos dois lugares.

Hoje em dia criança tem psicólogo, conselheiro, guru do amor, se bobear até estão dando conselhos aos pais, em contraponto à minha época em que o companheiro mais constante da criança era o chinelo na bunda caso houvesse alguma frescura. E olha, ainda não acho que isso tenha feito mal a alguém.

Eu olhos as crianças hj, digitando num computador, com msn, orkut, facebook, my space, twitter e por aí vai, quando na minha época, volto a dizer, o que se tinha pra brincar era aquela bola cascuda pra bater um dois toques na rua e rachar o dedo no chão.

Ainda lembro de quando jogávamos adedanha (Nome, cantor, ator, marca, MSE, ...). Até hj tenho vontade de jogar de novo, mas acho que já foi esquecido também pelos infanto-juvenis.

Vídeo game então.. No futebolzinho do super nintendo a única coisa que mudava era a cor da pele. E olhe lá!
Hj em dia vc liga um xbox e mexe três, quatro horas, daqui a pouco o resultado final: Vc fez o seu vizinho bom de bola aparecer dentro do vídeo game lá no 'edit' do winning eleven.
Sem contar o abalo emocional que os jogos the sims, counter strike e GTA causaram nas pessoas que passavam o dia inteiro jogando.

Esses dias tava na varanda, comecei a ouvir um tec, tec, corri pra ver o que era, aquele som não podia ser real, quando vi um moleque no outro lado da rua até arrepiei: Um bat-bag!!! De onde esse garoto tirou isso?!?! Saudosismo total! Um entre um milhão esse garoto, pq a maioria dos meninos e meninas da geração atual tá andando por aí com um celular ching ling com bluetooth, wi fi, java, gps, mp3, vídeo, vendidos no mercado livre a R$279,00, com ferte grátis para São Paulo!

Na vida das crianças hj em dia tá quase tudo invertido. As vidas sentimental e sexual têm aflorado de uma maneira tão rápida e a vida intelectual tem desenvolvido tão devagar! Não estou falando de escola somente e nem generalizando, mas já vi "crianças" com 17 anos no ensino fundamental e que até filho já tiveram.
O básico aprenderam, mas não fizeram o módulo avançado. Alguém, por gentileza, ensine a essas crianças que 1 + 1 sem camisinha é igual a 3!
Hj em dia criança ( e quando digo isso entenda-se adolescente também) não pensa mais! Questoes básicas, como dormir cedo pra fazer uma prova amanhã, ficar chateado por ter tirado nota vermelha, não gastar dinheiro hj com besteira pq amanhã vou precisar pra pagar uma passagem, e coisas simplíssimas não passam mais na cabeça dessas pessoas. Eu não sei, sinceramente o que aconteceu, mas acho que alguma coisa tá falhando dentro de casa, visto que nem todos são assim.

Só tem duas coisas que da minha época de criança que resistem até hj aos trancos e barrancos, quase que por imposição: Xuxa e molejão.
A Xuxa, sobrevive pela falta de opção no mercado. Televisão pra criança hj em dia já nem é mais tão atraente assim. Ela tava se dando muito bem quando tava com o planeta Xuxa (Programa dominical pra jovens, que foram crianças quando ela começou a carreira). Na minha humilde opinião, foi uma grande infelicidade dela voltar a trabalhar com crianças.

O grupo molejo, espertamente (depois de passar um bom tempo no esquecimento) aproveitou seu estilo samba-comédia e acompanhou a mentalidade dos consumidores principais de música: Crianças, adolescentes e jovens.
Cito com referência ontem e hoje do molejão, respectivamente, 'brincadeira de criança, como é bom, como é bom' e 'vou voltar pra sacanagem, pra casa de massagem'











Fecho meu extenso, e incompleto, raciocínio a respeito  deste assunto, refletindo sobre o que será que estarão fazendo as crianças daqui há uns 5 anos. Eu ainda quero ter filhos, dois, pra levar pro estádio pra assistir ao Vascão, então imploro, pais, avós, tios, irmãos, primos, e a vocês crianças, que daqui a pouco estarão segurando seus filhinhos no colo, vamos tentar puxar um pouco o freio na libertinagem que virou a cultura popular brasileira e a educação (vinda de casa e das ruas), pra que haja um futuro pros nossos filhos que seja pelo menos melhor que azeitona preta.

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